11 de dezembro 2010 as 9:22 am
Valtinho abre caixa preta do futebol santareno
Dirigentes usam São Raimundo para interesses pessoais
Inconformado com algumas situações que o futebol santareno vem enfrentando nos últimos meses, o treinador Valter Lima, “Valtinho”, declarou em entrevista exclusiva à nossa reportagem, que a decadência do São Raimundo nas competições que disputou nesse ano, como Campeonato Paraense, Copa do Brasil e Campeonato Brasileiro da Série C, foram em decorrência do uso do time, para interesses pessoais por alguns dirigentes. Para ele, a vaidade fez com que a diretoria do São Raimundo virasse uma verdadeira “Torre de Babel”, onde ninguém se entendia. “Valtinho” falou, ainda, do São Francisco e outros assuntos do futebol santareno. Acompanhe os principais detalhes:Valter Lima: O futebol santareno viveu uma fase muito boa no tempo em que tínhamos um campeonato amador muito forte e as pessoas se envolviam bastante, como em Belém. A torcida tinha o futebol na veia, ou seja, no tempo do Elinaldo Barbosa, quando havia um interesse muito grande por parte dos torcedores. Na fase do Barbalhão, também tivemos bons momentos no campeonato amador, antes de iniciarmos no profissional. Depois tivemos um momento muito complicado, onde a torcida perdeu o interesse e passou a ver pela televisão o futebol de outros estados, principalmente os campeonatos Carioca e Paulista, como um motivo maior do que o próprio esporte local.
Jornal O Impacto: O que levou o futebol santareno a ter essa decadência?
Valter Lima: Tudo isso foi em função da falta de organização e estrutura e os canais de televisão fechados, a possibilidade de lazer das pessoas irem ao um balneário, como Alter do Chão, em que o acesso foi ficando muito fácil, o que contribuiu para que a população perdesse o interesse pelo futebol local. Se forem oferecidas boas possibilidades, se terá um mercado para tudo. Isso ficou tão evidente quando o São Raimundo teve essa ascensão e, que a torcida lotou o estádio e viu o futebol como prioridade. A falta de estrutura é o que levava a torcida a ficar desacreditada do futebol. Ultimamente tivemos um momento não muito bom, com o São Raimundo, que depois de uma fase boa não manteve o mesmo nível e sofreu várias derrotas; bem como o São Francisco que não conseguiu se classificar para o Campeonato Paraense.
Jornal O Impacto: O senhor acredita que muitos dirigentes do São Raimundo usaram o time para se promover pessoalmente?
Valter Lima: Com certeza. Além de alguns dirigentes do São Raimundo, em geral, as pessoas que estão no futebol na sua grande maioria e não na sua totalidade, num percentual de 90% entram no clube por interesses pessoais, políticos e financeiro. Às vezes um marketing pessoal ou a convivência dentro do esporte. O futebol na sua totalidade é praticamente isso. Não vou especificar que no São Raimundo é isso, mas o futebol de uma maneira geral engloba todo mundo.
Jornal O Impacto: E a subida do São Raimundo para a Série C, seguida da queda novamente para a 4ª Divisão do Brasileirão, como o senhor analisa essa questão?
Valter Lima: Ninguém imaginaria que o São Raimundo algum dia chegasse a um espaço tão grande a nível nacional. O São Raimundo já havia disputado alguns campeonatos e, estamos aí numa faixa de 12 anos na competição profissional e ninguém nunca imaginou que chegaria a tanto. Em grande parte dos campeonatos a própria torcida e os meios de comunicação falavam que não adiantava o time disputar a competição profissional, porque não ganhava. Eles sugeriam que o time participasse do campeonato amador. Já estava sendo consolidada uma idéia de que o futebol profissional não era viável.
Jornal O Impacto: Quando começou a ascensão do São Raimundo no futebol profissional?
Valter Lima: Desde o campeonato paraense de 2009 o São Raimundo teve um ascensão muito grande. Veio de uma fase desacreditada, onde alguns abnegados tomaram frente e assumiram o departamento de futebol do clube naquele momento. Foi quando eu fui convidado para trabalhar no clube e saímos desacreditados para Belém, onde jogamos todo o primeiro turno lá e tivemos uma ascensão fantástica. Depois jogamos o segundo turno aqui, então, foi uma campanha muito boa, que deu a possibilidade do time ir para a Copa do Brasil, que era a minha grande meta. Acho que era uma maneira de elevar o nome da cidade e do clube a nível nacional. Em 2010 o São Raimundo não teve um desempenho muito bom por diversos motivos, entre eles, a vaidade excessiva, a falta de harmonia, diálogo, companheirismo e idéias concatenadas. Isso foi por parte das pessoas que dirigem o clube. Foi assim um mar de vaidade. O clube virou uma verdadeira “Torre de Babel”, onde poucos conseguiam se entender, somente dois ou três conseguiam dialogar. É um clube, onde os interesses pessoais e a vaidade tomaram conta.
Jornal O Impacto: Como foi sua passagem pelo São Raimundo?
Valter Lima: Eu já trabalho há muito tempo no futebol e, pra mim, cumpri a minha obrigação no clube. Das vezes que passei pelo São Raimundo procurei fazer com dedicação o meu trabalho. Só para se ter uma idéia, tenho 162 partidas no comando do São Raimundo, com 86 vitórias, desde 1989 até a última vez que em que estive no clube. Em 1989 quando ainda tínhamos um campeonato amador muito acirrado, o São Raimundo estava há 09 anos sem ser campeão e, praticamente garoto entrei como treinador e conquistei o titulo pelo Pantera. A partir desse momento até aqui, tenho esse número de jogos, vitórias e alguns empates. No total somam-se mais vitórias do que derrota, então, é isso, eu não guardo mágoas no futebol, que por si só vai contando sua história, no seu devido tempo, definindo as coisas e a Justiça vai sendo feita.
Jornal O Impacto: Você tem uma história dentro do São Raimundo. Você não ficou mágoa de ninguém?
Valter Lima: Não! O clube e a torcida são maiores que qualquer coisa que venha a ser de cunho individual, inclusive o sentimento de rancor.
Jornal O Impacto: Qual foi o motivo do presidente Rosinaldo do Vale ter dado uma entrevista contra sua pessoa:
Valter Lima: Falta de informação. Tivemos uma reunião onde tinham 08 membros da diretoria e o único ausente era ele, para definir a situação do Beto. Resolvemos pelo afastamento e depois de uma emana ele deu uma entrevista defendendo o Beto. Eu não sei até onde ele sabe das coisas do clube, pois no mínimo a reunião deveria ter uma pauta onde o presidente colocaria também o seu ponto de vista. Quanto a gostar de mim ou não, isto é problema dele. Sou aquele cara que trabalha e vai embora para casa, não fico papeando com ninguém, não faço churrasco para dirigente nem jogador. O meu meio é de pessoas que normalmente não fazem parte do futebol.
Jornal O Impacto: Então, você não gosta do meio do futebol?
Valter Lima: Não! Apenas tolero por questões profissionais. O meio é feito de 90% de pessoas falsas e aí não dá para definir os 10% que são o trigo. É melhor ficar fora.
Jornal O Impacto: E por que você decidiu pelo afastamento do Beto?
Valter Lima: Nada contra o Beto jogador, até porque eu que o indiquei no momento de montar o plantel para a Série D. Acho ele um bom jogador, só que não tinha naquele momento uma postura de profissional, de acordo com o que penso. Quando ele foi para Marabá com a bolsa do Remo, para mim foi a gota D´água.
Jornal O Impacto: O que você acha do São Raimundo no Rio de Janeiro?
Valter Lima: Eu não acho nada. Quem tem que achar a Cidade Maravilhosa são eles que estão lá. Só não entendo é que quando levei o São Raimundo para Belterra uma parte da imprensa ficou criticando, que era longe para cobrir o clube no dia a dia. E agora? Nas minhas contas, o Rio de Janeiro é mais longe que Belterra. Mas quero que dê certo, até porque é o anseio de toda uma torcida. Vejo que, agora está todo mundo muito calado. Mas entendo também que se tudo que for feito para a melhoria do time, será importante. Se lá no Rio de Janeiro, o São Raimundo está indo por uma nova concepção, tendo o topo do mundo do futebol como modelo e exemplo de organização, eu apoio. O time vai disputar o Campeonato Paraense, que é um direcionamento para a Copa do Brasil. Se tudo isso é importante para ganhar, que seja feito.
Jornal O Impacto: Sobre a união dos dirigentes do São Francisco em trabalhar para colocar o time novamente no topo do futebol profissional, como o senhor vê essa questão?
Valter Lima: Com relação ao São Francisco, acho isso importante, porque quebra um paradigma de que só havia espaço para um clube disputar um campeonato profissional e não dava para dois times. O São Francisco foi rebaixado, ficou só o São Raimundo e uma torcida ficou órfã. O torcedor fiel do São Francisco jamais torce pelo São Raimundo, porque a grande alegria da torcida é quando o time ganha e o adversário perde. Tinha muito torcedor do São Francisco que ficava alegre quando o São Raimundo perdia. Assim como soltaram fogos pela cidade quando o São Francisco foi desclassificado, recentemente, na segunda divisão do Campeonato Paraense. Essa rivalidade deve existir e vejo com bons olhos a idéia de que a diretoria do São Francisco se organize, que os dirigentes acreditem no profissionalismo, não sejam tão sentimentais, como foram agora, para fazer um time competitivo e que vá ao anseio da torcida. Os torcedores do São Francisco são em grande número e divide Santarém, então, o time merece voltar ao topo do profissionalismo.
Jornal o Impacto: O campeonato amador é viável para Santarém?
Valter Lima: Acho que o campeonato amador é improdutivo. Deve existir o campeonato amador, sim, por uma questão social, que dá acesso a algumas pessoas no futebol, como jovens jogando, mas é improdutivo a nível de futuro para um clube profissional. De todos esses campeonatos amadores não conseguimos captar nenhum jogador para o time profissional. O que deve ser feito é o trabalho de base, desde escolhinha até o sub-12, 13 e 18 e, assim poderemos preparar atletas.
Jornal O Impacto: O senhor acredita que a torcida ainda vai voltar a lotar o Colosso do Tapajós?
Valter Lima: Se o time começar a ganhar o torcedor volta, porque a torcida é motivada pela paixão. Agora no Campeonato Paraense, se o time do São Raimundo for bem e ganhar, a torcida voltará a encher o estádio, com certeza.
Jornal O Impacto: Quais foram os melhores dirigentes até agora, no futebol, para você?
Valter Lima: Élvio Fonseca, Dr. Levi (Clube do Remo) e o Dr. Tolentino. O mais incrível é, que eu antes de ir embora de Santarém, eu joguei com 15 anos em uma excursão com o São Raimundo e o dirigente era o Dr. Everaldo Martins. Naquela ocasião, ele falou ao presidente do Pantera, que nem me lembro o nome agora, para cuidar bem daquele garoto, pois previa que grandes momentos estariam na minha mão.
Jornal O Impacto: Para finalizar, você aceitaria retornar ao comando técnico do São Raimundo?
Valter Lima: Enquanto o Rosinaldo do Vale for presidente, jamais retornarei para o São Raimundo. Tenho admiração por alguns dirigentes, mais ou menos três, porém, a maioria só queria e quer se aproveitar da boa fase do clube. Sei que a maior parte da torcida do Pantera está do meu lado. Se eu estivesse ficado no comando do São Raimundo, na Série C, teria levado o clube para a Série B. Consegui dois empates fora de casa, mas mesmo assim fui demitido pelo Rosinaldo quando a delegação estava em Rio Branco, no Acre.
Por: Manoel Cardoso
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