22.04.2011
Direto de NY: entrevista exclusiva com Anderson Silva
Lutador lança filme nos EUA, avalia o atual momento do MMA no Brasil e diz que Pedro Rizzo, Wanderlei Silva e Vitor Belfort deveriam lutar no UFC Rio
*Por Evelyn Rodrigues, direto de NY
O Fightworld e o R7 estão acompanhando Anderson Silva durante a sua passagem por Nova Iorque. O lutador está na cidade para participar de uma série de compromissos por conta do lançamento do filme
Like Water – documentário dirigido por Pablo Croce, baseado na vida de Anderson e que teve a sua estreia nos Estados Unidos neste fim de semana no Tribeca Festival Filme.
Na première do filme, que aconteceu no dia 21 de abril, Anderson falou com a nossa reportagem. Disse que estava muito feliz com a repercussão do documentário e que espera que as pessoas possam conhecer mais sobre ele fora do esporte.
Como surgiu a ideia de fazer o filme?
Surgiu quando começamos a gravar todos os meus treinamentos para a luta contra o Sonnen. Aí tivemos a ideia de editar o conteúdo e acabou virando o documentário.
Por que a inspiração na frase de Bruce Lee?
Eu amo o Bruce Lee, sou fã dele…foi ele quem revolucionou tudo isso. E essa é uma frase que funciona muito bem, porque a água, se você for ver, ao mesmo tempo em que ela é fraca, ela se torna muito forte. Se eu jogar um balde de água aqui, você não consegue pegar, mas ela se adapta a tudo, ela toma várias formas…e ao mesmo tempo em que ela se torna forte ela traz muita energia.
Tem previsão de o filme ir para o Brasil?
Ainda não, mas estamos em negociações…
Como você avalia o interesse de muitos jovens hoje em ser lutadores de MMA?
Na minha época, quando eu comecei, tinha muito aquele negócio da hierarquia da luta marcial. O dinheiro era conseqüência. Hoje em dia, os jovens já querem ser lutadores só pelo dinheiro. Eles esquecem a tradição da arte marcial. Eu sou da velha guarda, a gente começou a ganhar dinheiro agora. Eu sou da época em que agente lutava pela honra, porque gostávamos de fazer aquilo. Muitos jovens, hoje, acabam se frustrando por causa disso. Eles entram para o esporte achando que vão ganhar dinheiro, porque agora o esporte está evoluindo, mas se esquecem de que não é todo lutador que é bem sucedido. Muitos lutadores de talento no Brasil não conseguem viver do esporte e precisam de outro emprego, vão trabalhar de segurança, fazendo bico…enfim, a cada 20 lutadores, um é bem sucedido.
Também falta apoio do país para que esses atletas possam ter uma carreira, falta estrutura…está melhorando muito, mas ainda é um desafio.
Há uma especulação com relação a uma possível subida sua para a categoria de até 93 quilos.Você pensa em subir de peso para competir?
Não penso em subir de peso. Quando eu lutava no Pride, eu tinha que assinar um termo de compromisso e de responsabilidade para lutar. No Pride, na minha época, não tinha a categoria que eu luto no UFC, a de 84, eu lutava na de 95 e eu tinha 77/80 quilos…Então eu tinha que assinar esse termo dizendo que eu era responsável por qualquer coisa que acontecesse comigo porque eu estava lutando em uma categoria que não era a minha.
Quando eu fui para o UFC, o Dana White achou que deveria me popularizar e me colocou duas vezes para lutar na categoria de cima e e eu consegui ganhar, graças a Deus. Na cabeça dele, ele falou: “Cara, como eu posso colocar um cara na categoria de cima e o cara ganhar de um que já foi campeão e de um outro que estava prestes a lutar pelo título?”. Então ele disse que se eu quisesse lutar na categoria de cima, eu teria que abandonar o cinturão da categoria de baixo. Seria um bom negócio porque o cinturão de 84 quilos ficaria vago e eu teria mais lutas na categoria de cima…mas eu não penso nessa possibilidade. Eu acho que tem vários atletas bons que podem ser campeões da minha categoria. A questão é, quem poderia se credenciar agora, além do Okami, e como seria.
Durante o UFC 126 você foi muito criticado pela imprensa por ser alheio a entrevistas…
O pessoal diz que não gosto de dar entrevistas, mas eu não tenho problema nenhum em falar com jornalistas. No entanto, muitas vezes você fala uma coisa e a informação final que chega para os leitores é descontextualizada. E aí o que sai na matéria é exatamente aquilo que eu não sou…
Você acha que com o filme as pessoas vão poder conhecer o verdadeiro Anderson?
Acho que sim… Eu sou uma pessoa normal, tenho meus projetos, minha família, faço piada entre amigos. Acho que elas vão poder ver esse outro lado, o lado mais humano do atleta Anderson.
Durante o UFC 126 você chegou a ser vaiado durante a pesagem e antes da luta…você consegue explicar por quê?
É normal…Sabe o que acontece? Chega num certo momento e as pessoas te odeiam e te amam ao mesmo tempo e elas querem te ver cair. Os ídolos foram construídos para serem derrubados. Todo mundo já passou por algum tipo de problema. Você precisa ter uma cabeça muito boa para lidar com isso. Às vezes as pessoas não entendem o que está acontecendo ali. É tudo um jogo de estratégia para você vencer a luta. O combate começa a partir do momento em que dizem: você vai enfrentar fulano. É muito psicológico e aí você tem que usar as suas armas para tentar induzir o seu adversário a não estar bem de cabeça, a acabar com o psicológico dele. Faz parte do jogo…
Foi isso que te levou a levar a máscara para a pesagem?
A história da máscara foi exatamente o contrário… Eu estava em casa, tínhamos acabado de sair de um show de circo e eu ganhei um kit com várias coisas e aquela máscara estava no meio. E aí meu filho falou: “Pai, já que ele te chamou de mascarado, coloca a máscara”. E daí veio essa história. Eu quis exatamente colocar a máscara para mostrar que o mascarado era ele…O Vitor treinou comigo, ele sabia que a gente tinha um código de honra de não lutar um contra o outro, mesmo que estivéssemos na mesma categoria… Mas outras coisas também aconteceram…ele simplesmente chegou na academia um dia, sabendo que eu lutava na categoria 84 e já tinha treinado com ele, e falou para um amigo meu “Eu vou lutar no UFC, vou ser o novo campeão de 84”. Meu amigo falou, “Cara, nós já temos um campeão nessa categoria”. E ele falou “Não, não, eu vou lutar no UFC e eu vou ser o novo campeão”…
Depois de toda essa repercussão, como você vê o UFC 126 hoje?
O UFC 126 foi bom porque acabou promovendo o UFC no Brasil. Foi um titulo mundial, disputado por 2 brasileiros e isso ainda demonstra a nossa superioridade. É uma coisa que ainda deixa os americanos com a pulga atrás da orelha. Eu fico triste, mas ao mesmo tempo eu fico feliz, quando a luta é entre dois brasileiros, porque aí eu sei que o cinturão fica no Brasil. Pode parecer demagogia, mas aí entra o patriotismo. É melhor o título estar dentro do Brasil do que estar com japonês, chinês, coreano… Nós tivemos grandes campeões no Japão, como o Minotauro, Shogun, o Wanderley. Aí viemos para os EUA e de novo tivemos o Minotouro, o Rioto, o Zé Aldo…na história da luta, o Brasil tem grandes campeões, o próprio Vitor Belfort, o Pedro Rizzo… E eu acho que o Brasil vive um momento muito bom, com grandes nomes no mundo, grandes campeões e agora está chegando o UFC no Brasil e eu acho que tem que colocar o Pedro Rizzo para lutar no Brasil…É fundamental para o Brasil que ele lute…é a minha opinião.
Quem mais você acha que tem que lutar no UFC Rio?
Zé Aldo, Pedro Rizzo, Minotauro e Vitor Belfort tinham que lutar no Brasil… Eu acho que Wanderley e Vitor é uma luta que não vai acontecer, infelizmente…Seria uma luta fantástica e perfeita para o Brasil, não teria palco melhor do que o UFC Rio, pela super história…mas eu acho que não vai rolar…