PF e Força Nacional tentar controlar tensão em Anapu
Incra em Santarém garantiu que vai cumprir exigência feitas pelos assentados
Um grupo de doze policiais federais desembarcou em Anapu ontem (19), no final da tarde, a fim de assegurar a paz e evitar um conflito entre assentados do Projeto de Desenvolvimento Sustentável (PDS) Boa Esperança e madeireiros acusados de invadir as reservas para devastar a floresta e retirar a madeira para vender.Os colonos denunciaram a invasão e obstruíram a estrada que dá acesso ao PDS desde o final da semana passada, exigindo a construção de guaritas nas duas entradas da área, a revisão ocupacional no PDS e a pavimentação da estrada que dá acesso ao local. Em resposta, outra divisão de assentados que negocia com os madeireiros ameaçou fechar a rodovia Transamazônica (BR-230) se o governo insistisse em combater a exploração.
A superintendente do Incra em Santarém, Cleide Souza, em reunião com os assentados, garantiu que o órgão vai cumprir com as três medidas exigidas pelos assentados do PDS. O clima é de tensão.
Na terça-feira, 25, o ouvidor agrário nacional, Gercino Silva Filho, chegará a Altamira para participar de audiência pública da Comissão Nacional de Combate à Violência no Campo, onde um grupo de assentados do PDS de Anapu estará presente para denunciar a extração ilegal de madeira na área do Boa Esperança.
A ida da força policial federal a Anapu havia sido requisitada pelo Ministério Público Federal desde agosto de 2010, quando houve várias denúncias dos assentados à Procuradoria da República em Altamira. Só esta semana o pedido foi atendido, após o governo estadual reforçar o policiamento na área.
O PDS Boa Esperança foi idealizado pela missionária Dorothy Stang, assassinada em 2005 a mando de grileiros de terra da região de Anapu e Altamira. Após sua morte, de acordo com a irmã Jane Dwyer, da Congregação Notre Dame, foi garantida a fiscalização na área nos anos seguintes até o final de 2008. A partir de 2009, as invasões dos madeireiros no PDS recomeçaram.
Cada família local recebeu 20 hectares de terras, sendo 20% para cultivar e outros 80% para preservar. A região é coberta por uma floresta valiosa e terra fértil, onde eles cultivam cacau, milho, arroz, feijão, mandioca e pimenta-do-reino.
Para retirar a madeira da área, as famílias têm que formar uma cooperativa e elaborar um plano de manejo coletivo, explica a religiosa, que acompanha o processo de obstrução da estrada do PDS pelos colonos. O PDS Boa Esperança foi planejado para abrigar 180 famílias de trabalhadores rurais, mas há suspeita de que várias famílias sem perfil rural foram colocadas lá dentro pelos madeireiros para assegurar a derrubada da floresta.
“Há muita madeira amontoada dentro do PDS. Tem trabalhador ameaçado por não querer vender a madeira de sua área e a polícia não consegue garantir a segurança das famílias. A floresta é pública e tem que ser preservada, é preciso dar garantia de vida a estas famílias, senão a situação vai ficar muito pior”, afirma a missionária Jane Dwyer.
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