sábado, 15 de janeiro de 2011

Não só o piloto, mas toda a tripulação sumiu

Não só o piloto, mas toda a tripulação sumiu
 
Sábado, 15/01/2011, 05:12:03
Não só o piloto, mas toda a tripulação sumiu (Foto: Thiago Figueira)

A TAM não explicou os motivos do atraso da tripulação (Foto: Thiago Figueira)
Um voo da TAM, que na tarde de ontem iria de Belém para o Rio de Janeiro se transformou em dor de cabeça para os 167 passageiros, que foram obrigados a sair do avião logo após o embarque por um motivo um tanto estranho: a tripulação simplesmente não compareceu para trabalhar. Sem piloto e comissários de bordo, o avião ficou impedido de levantar voo e aos passageiros restou contabilizar os prejuízos.
A viagem do JJ 3421 deveria sair de Belém às 15h45 com chegada prevista à capital carioca às 20h30 (horário de Brasília) sem escalas, porém o embarque já ocorreu com atraso, às 16h15, e só depois de cerca de 20 minutos dentro da aeronave o piloto anunciou o problema. Segundo ele, a equipe que deveria assumir o avião não apareceu nem deu notícias à empresa sobre o ocorrido, não foi localizada nenhuma outra equipe substituta e o grupo comandado por ele não poderia seguir viagem porque estava trabalhando desde a manhã e já havia chegado ao limite de horas de voo previsto pelas normas da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac).
Sem outra alternativa, a tripulação presente seguiria para o hotel para descansar e depois retornaria para o novo voo onde todos os passageiros seriam realocados, com saída prevista para 22h30.
Os passageiros foram, então, orientados a desembarcar, retirar as bagagens e retornar para os balcões de check-in para nova acomodação no voo extra, procedimento que para alguns demorou mais de 4h30 de uma interminável espera na fila.
PREJUÍZOS
Os que não moravam em Belém ganharam hospedagem em hotel, transporte e alimentação, mas isso não cobriu os prejuízos, que para alguns significavam correr risco de morte, como o caso da filha da assistente administrativa Eliane Sousa, 6 anos, com leucemia, e que após 16 dias de espera finalmente havia conseguido leito para tratamento de quimioterapia e possível transplante no hospital Copa D´Or, no Rio de Janeiro, mas cuja vaga só estava garantida se a menina desse entrada até às 23h de ontem, horário em que ainda estaria voando.
Diante da possibilidade de perder essa batalha na luta pela vida da filha, Eliane estava desesperada. “Minha filha está desde o meio do ano passado doente e só agora descobriram que era leucemia, por isso temos que correr com o tratamento logo. Se ela perder essa vaga, não sabemos quando conseguiremos outra”, lamentava, informando inclusive que a criança não tinha assistência para permanecer em Belém e nem para embarcar novamente.
“Ela deveria ter viajado com uma UTI móvel, mas a companhia aérea não permitiu. Ela está fraca e só está medicada até às 23h. Se até este horário não chegarmos ao Rio, não sei o que pode acontecer”, preocupava-se a mãe, que até o início da noite ainda não havia conseguido estabelecer contato com o hospital para pedir compreensão diante do ocorrido.
Eliane e a filha vinham de São Luís e haviam adquirido lugar em um voo que supostamente sairia direto da capital maranhense para o Rio de Janeiro, e só quando embarcaram souberam da escala no Pará. “Comprei o voo direto exatamente para ser mais confortável para ela”.
MUDANÇA
Outros passageiros embarcados em São Luís estavam irritados com a mudança na rota, como um grupo de 12 pessoas que seguia para uma convenção empresarial no Rio. “Ainda bem que nos antecipamos e marcamos a viagem para bem antes da abertura da convenção, que será no domingo. Caso contrário nós estaríamos prejudicados dentro da empresa”, disse Aliésio Bringel.
Prejuízo também para Marilena Alves do Santos, que desistiu de embarcar novamente o neto de seis anos. “Essa é a segunda tentativa de embarque dele que não acontece. Primeiro viemos na madrugada de sexta para um voo que sairia às 5h, mas não ocorreu. Remarcaram para este voo das 15h45 e agora meu neto, que veio só passar as férias, está traumatizado e não quer mais embarcar sozinho”, disse a avó, diante da criança que chorou quando se viu sozinho no momento do desembarque.
Outra que não reembarcou no voo das 22h30 foi Solange Trindade, que do Rio faria uma conexão para a Alemanha e de lá seguiria para a França, onde mora. “Com esse problema vou perder todas as conexões, e aí são mais de R$ 6 mil em prejuízo”, revelou, que viajava com o filho de 2 anos e só conseguiu um novo voo com todas as conexões até seu destino final para às 15h30 de hoje.
Entre os paraenses, Brenda Protázio lamentava estar comemorando o aniversário de sete meses de seu filho no meio da confusão. “É um desconforto muito grande passar por tudo isso”, disse a jovem, que mora no Rio e, como outros passageiros, considerava surreal o fato da tripulação não ter aparecido para trabalhar. “Quando você chega atrasado, perde o avião, mas quando eles comentem um erro de escala desse quem é que se preocupa com os problemas causados aos passageiros?”, questionava o carioca Paulo Emílio Santos.

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