NOVA IPIXUNA/PA: Casal vinha sendo ameaçado desde 2001

29.05.2011.

Quanto custa uma vida de um defensor da floresta na Amazônia? Pouco ou nada. Esse é o sentimento dos familiares do casal de ambientalistas, Maria do Espírito Santo e José Cláudio Ribeiro da Silva, dois lutadores, que tombaram para defender a floresta e a forma de vida sustentável na região como única forma de preservação do futuro. Assim como eles, outros 28 trabalhadores rurais e ambientalistas integram a lista das pessoas marcadas para morrer no Estado do Pará, segundo documento entregue oficialmente pela Comissão Pastoral da Terra (CPT) ao Ministério da Justiça em abril deste ano. Em anos anteriores o nome de Zé Cláudio, como era conhecido, já constava na lista dos marcados para morrer desde 2001, como constata a relação elaborada anualmente pela CPT. Irmãos, filho e a sobrinha dos extrativistas temem pela vida do resto da família e ainda não sabem se vão continuar o trabalho deles.

Clara Santos, a sobrinha, afirma que eles acreditavam tanto na preservação da natureza, no estilo de vida de respeito à floresta, que utilizavam apenas 20% de sua área na reserva para produção, os outros 80% são áreas verdes totalmente preservadas.

No entanto, os familiares temem permanecer na área, mesmo com todo aparato policial destinado pela Secretaria de Segurança Pública do Pará. É que mesmo com todas as denúncias de ameaças à vida do casal, ninguém deu ouvidos ao clamor nem deles próprios nem da CPT. O casal apareceu em dois programas de TV em rede nacional denunciando a destruição dos castanhais da reserva pelos madeireiros, fez denúncias ao Ibama, Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Polícia Federal. Além disso, o mesmo caderno de publicações, contendo a lista dos ameaçados, também era repassado anualmente ao governo estadual desde 2008.

A omissão do poder público teve como consequência a execução do casal ambientalista, que tombou na terça-feira desta semana, em uma pequena estrada que dá acesso à reserva extrativista Praia Alta Piranheira, no município de Nova Ipixuna, sudeste paraense, projeto sustentável que defenderam com a própria vida.

PERSEGUIDOS

Na lista das lideranças do campo ameaçadas de morte por madeireiros, grileiros e fazendeiros do Pará, que não aceitam a luta pela reforma agrária nem pela preservação da floresta, constam também Maria Joelma Costa, viúva de José Dutra da Costa, Dezinho, ex-presidente do Sindicato Rural de Rondon do Pará, também assassinado. Charles Trocate, do Movimento dos Sem-Terra (MST/Marabá); frei Henri dez Roziers, ex-coordenador da CPT em Xinguara; Raimundo Paulino, líder dos trabalhadores rurais em Ourilândia do Norte, entre outros.

Da mesma lista fez parte em 2004 a missionária Dorothy Stang, que foi executada em 2005, em Anapu, por pistoleiros contratados por fazendeiros inconformados com a organização dos projetos sustentáveis liderados pela freira. O caso é idêntico ao do casal ambientalista.

Outros dois trabalhadores da reserva também estão ameaçados de morte. José Martins e Francisco Tadeu da Silva, este ano, tiveram suas casas incendiadas por pistoleiros, que ameaçaram assassiná-los se voltassem para a reserva. Mesmo temerosos, eles voltaram e com a ajuda dos líderes extrativistas assassinados na terça-feira, conseguiram reconstruir suas casas e permanecem no local. (Diário do Pará)