| Detesto  polêmicas. Odeio meter meu bedelho na seara alheia. Vocês são  testemunhas disso. A vida, contudo, me obriga a isso. Serei categórico: o  exame obrigatório da Ordem dos Advogados do Brasil é uma aberração. Não  sei se é inconstitucional. Tem todo jeito. Com certeza é um privilégio.  Quantas profissões exigem exames de ordem? Ciências Contábeis,  advocacia? Que outras? Quem se forma em Odontologia é dentista. Quem se  forma em Jornalismo é jornalista. Quem se forma em Direito é bacharel.  Por que não é advogado? Porque, desde 1995, o lobby da Ordem dos  Advogados impôs uma nova barreira à entrada na profissão.
 Cada profissão tem suas especificidades, perigos  e riscos. O médico lida com a vida. O jornalista mexe com as reputações  e com a verdade. Por que a advocacia seria mais importante do que a  Odontologia? No Brasil, as faculdades formam e concedem diplomas. O  Mistério da Educação fiscaliza a qualidade dos cursos superiores. Se não  estão bons, deve fechá-los. Ou impor a todas as áreas um exame de  confirmação ao final da faculdade. Se o próprio MEC não quer aplicar o  exame e acha mais adequado atribuí-lo às ordens profissionais, conselhos  ou associações, que o faça, se a lei o permite, mas que valha para  todos. O exame da OAB, ao contrário do que é alardeado, não tem evitado a  entrada de maus bacharéis na advocacia. Está cheio de incompetentes  advogando. O fim da obrigatoriedade do exame da ordem não deve ser para  facilitar a vida de bacharéis vagabundos ou burros, mas para eliminar um  privilégio bizarro. Ordem é corporação.
 
 Não estamos mais na Idade Média, período em que  as corporações estabeleciam as regras de ingresso numa profissão, o que  representava também uma reserva de mercado. O STF decidiu que para ser  jornalista não precisa diploma universitário. Rigorosamente o mesmo  poderia valer para a advocacia. Bastaria conhecer as leis, os códigos e  os procedimentos. Por outro lado, se é a aprovação no exame da Ordem que  permite receber o título de advogado, qualquer um deveria estar  autorizado a fazê-lo, independentemente de diploma universitário. Passou  na prova, tendo ou não curso superior, advoga. Advogados adoram  privilégios. Por que não são revistados na entrada dos presídios? Aposto  que aparecerá um para dizer que são. Os argumentos que ouvi até agora  em defesa da obrigatoriedade do exame da Ordem são falaciosos.
 
 Quase todas as áreas profissionais têm cursos  universitários em excesso no Brasil. Isso não é exclusividade do  Direito. Que os melhores vençam. Que os piores fiquem pelo caminho. Sou  contra reservas. Não deveria existir um número limitado de licenças para  táxis numa cidade. É absurdo. Cria um mercado paralelo. Tem carro, quer  ser taxista, submeteu-se à fiscalização municipal, cumpriu os  requisitos? Entra no mercado. Não haverá clientes para todos? O  excedente desistirá. O exame da Ordem dá a uma guilda o direito de  restringir o ingresso numa atividade profissional. Por que as outras  guildas não têm o mesmo direito cartorial? Porque a Idade Média ficou  para trás. Cabe ao Estado, não a autarquias sui generis, fiscalizar a  qualidade da formação superior.
 
 JUREMIR MACHADO DA SILVA | juremir@correiodopovo.com.br
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